Já estou à um tempo sem postar nada no Blogger. Muito estudo e vida corrida! Mas fiz um trabalho sobre transtorno Bipolar na Infância e na Adolescência para o meu curso de especialização e julguei de grande importância repassar algumas informações. O tema é pouco falado, de difícil diagnóstico e os sintomas se apresentam diferentes dos sintomas apresentados na fase adulta. No Brasil existem poucos locais especializados no assunto. Sei que o tema é vasto e requer ainda muito estudo, mas para quem quer ter uma visão, ainda que superficial do assunto, vale a pena a leitura!
Segundo
Pereira, L. (2011) “o Transtorno Bipolar (TB) é uma patologia
psiquiátrica grave, recorrente, que se caracteriza por oscilações de humor e
envolve aspectos neuroquímicos, cognitivos, psicológicos, funcionais,
familiares e socioeconômicos.”. Os Manuais de classificação diagnóstica
utilizados (CID 10(OMS, 1993) ou DSM-IV (APA, 2002)),
possuem critérios para o diagnóstico na fase adulta, sendo muitas vezes,
utilizados tais critérios para o diagnóstico em crianças e adolescentes de
forma errada por tais critérios se apresentarem limitados para estes sujeitos.
Tendo em vista as dificuldades
por conta das diferenças de desenvolvimento dos sintomas e da ciclagem rápida do
Transtorno Bipolar em crianças, autores se reuniram para sistematizar os
aspectos descritivos dos sintomas na infância e na adolescência, onde subtipos
do transtorno foram apresentados. Os sintomas propostos foram: elação de humor,
grandiosidade, fuga de ideias e decréscimo na necessidade de sono,
irritabilidade e TDAH. Sendo o humor irritado considerado como sintoma central,
mesmo na ausência de humor elevado, grandiosidade e episiodicidade. Uma das
maiores dificuldades de classificação se encontra no espectro do Transtorno
Bipolar – Sem Outra especificação. Para resolver esta dificuldade foi proposta
uma classificação que englobaria os diferentes fenótipos com base na duração do
ciclo e/ou episódio, predominância de euforia e grandiosidade ou somente
irritabilidade e a existência ou não de disforia crônica e descontrole da raiva
associados ou não com sintomas maníacos. Tal classificação propôs três
fenótipos clínicos: 1) Restrito: sujeitos que satisfizessem a totalidade dos critérios
para mania e hipomania; 2) Intermediário: sujeitos que englobam duas subcategorias,
a primeira com a presença de sintomas maníacos, mas com curta duração, isto é,
1 a 3 dias e a segunda com mania ou hipomania com episódios e irritabilidade,
mas sem história de humor eufórico; e 3) Amplo: engloba doença crônica, não
episódica, sem sintomas clássicos, mas com severa irritabilidade e muito baixo
limiar a frustrações, sem os sintomas de elação do humor ou grandiosidade
(Tramontina, S.2003).
COMORBIDADES
É comum a presença de
comorbidades no adolescente com o quadro de Transtorno Bipolar. Tais
comorbidades não se apresentam com facilidade na fase adulta e em proporção bem
menor na infância. As comorbidades psiquiátricas que mais se apresentam são
TDAH, Transtorno de Oposição e Desafio (TOD), Transtorno de Conduta (TC) e
Transtornos de Ansiedade (TANS). A prevalência estimada de comorbidade do THB
com transtornos psiquiátricos é de 49% a 87% com TDAH, 8% a 39% com abuso de
substâncias, 44% com transtorno obsessivo- compulsivo, 19% a 26% com transtorno
do pânico, 19% com transtorno de ansiedade generalizada, 40% com fobia social,
75% com transtorno desafiante de oposição, e 12% a 41% com transtorno de
conduta (Kowatch e DelBello, 2006, apud Moraes, C. e colaboradores).
TRATAMENTO
Estudos indicam que o
tratamento deve ser multidisciplinar (psiquiátria, psicólogia, psicopedagogia...), tendo em vista a complexidade e os
prejuízos causados na vida do sujeito. Não existem evidências comprovadas do
sucesso dos fármacos no tratamento entre as diferentes faixas etárias. A
medicação utilizada para crianças e adolescentes ainda é a mesma utilizada em
adultos e se questiona os efeitos adversos.
O transtorno de humor Bipolar é um quadro grave que
acomete além de adultos, também crianças e adolescentes. Os prejuízos
acarretados no desenvolvimento do sujeito, são devastadores, pois englobam
fatores emocionais, sociais, prejuízos no desenvolvimento, na aprendizagem,
dentre outros, gerando forte impacto na criança/adolescente e sua família. É
necessário que o profissional a avaliar, saiba fazer o diagnóstico diferencial
para que haja uma intervenção adequada. Podemos verificar que ainda existem
poucos estudos no Brasil, para tal transtorno, o que dificulta o profissional a
ter sensibilidade e olhar clínico para reconhecer o quadro e se habilitar para
oferecer tratamento adequado ao sujeito com tal transtorno.
BIBLIOGRAFIA
·
Moraes,C.,
Barbirato,F.,Silva2,N., Andrade, N.R.3 ; Diagnóstico e tratamento de
transtorno bipolar e TDAH na infância: desafios na prática clínica; 2007.
· Farias,
A.C., Cordeiro, M.L.; Transtornos do humor em crianças e adolescentes:
atualização para pediatras, in:Jornal de Pediatria, 2011. http://www.scielo.br/pdf/jped/v87n5/v87n05a03.pdf
·
Stubbe, D. Psiquiatria da infância e adolescência;
Porto Alegre - 2008.